Era uma vez…

Um garoto que vivia há dezenas de anos a sua frente. Falava pouco pois quando falava seus coleguinhas se irritavam, não com ele, mas consigo mesmos por não conseguirem entender absolutamente nada do que nosso heroi dizia e então davam as costas a ele.

O tempo passou e nosso heroi cresceu e se tornou um belo rapaz, sempre anos luz a frente do seu tempo, por isso sempre quieto. Encontrou um lugar na Academia. Graduou-se em Ciências Sociais, fez mestrado, doutorado, publicou teses em que prediziam um futuro obscuro para o seu povo. Era chamado pejorativamente de “Profeta” mas suas predições do futuro tinham como base a Ciência e não ossos de galinha, borra de café e coisas do gênero. Mesmo assim era ridicularizado.

Dizia o nosso heroi aos seus conterrâneos que o que eles estavam vendo e vivendo eram apenas sombras projetadas na parede e que fora da caverna havia um mundo novo, que além do horizonte havia um lugar… mas era inútil. Eles insistiam em acreditar que a Terra era plana, que havia um deus que tudo via, tudo sabia e que se não fizessem o que esse deus mandava iriam todos parar em um lugar horrível chamado inferno. O nosso heroi dizia que não, que isso não existia, que tudo isso não passava de ilusão, de alienação. E foi ridicularizado por isso.

O tempo passou e o governante desse povo liberou o porte de arma de fogo. Noso heroi comprou uma. Municiou com apenas uma bala e deu um tiro na boca. Ninguém sentiu sua falta. Apenas uma notinha de rodapé em um jornaleco mequetrefe. Lamentaram, isso sim, o desperdício:

– Ora, veja só. Que desperdício de bala.
– Pois é…
– A munição é mais cara que a arma.
– Pois é…

E veio mais uma vez o imperativo do tempo. O povo foi enfraquecendo, adoecendo, se fragmentando em pedacinhos até que todos viveram infelizes para sempre…

Fim

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