A Garça e a Coruja

Algo bem peculiar me aconteceu na semana passada. Eu voltava da casa de uma garota a qual eu fizera chorar e estava me sentindo muito chateado e frustrado por não ter conseguido reatar os laços de afeto que outrora haviam nos unido. Enquanto eu caminhava e ficava roendo as correntes do passado, prestes a cair na fossa da lamentação e me afundar de vez na merda da culpa e do remorso, o fato inusitado me desviou o foco e me salvou de um possível desastre emocional.

A estrada era de terra cercada por uma paisagem bucólica, com pastos, árvores e uma grande variedade de flores. O céu estava claro e sem nuvens e o sol parecia estar sereno e tranquilo proporcionando uma temperatura bem agradável. Foi então que eu ouvi um zumzumzum. Olhei ao meu redor e não encontrei ninguém. Procurei novamente pelo murmurinho e, prestando bem atenção, encontrei, não muito distante de onde eu estava, uma coruja e uma garça empoleiradas no galho de uma árvore. Com muito cuidado para não ser visto e para não espantá-las, me dirigi a uma rocha que ficava bem próxima das aves a fim de me esconder e poder ouvir aquele diálogo fabuloso.

A Coruja reclamava para a Garça o seguinte:

– Puta que o pariu… Já tô de saco cheio! Ninguém aqui gosta do meu canto! Quer saber? Vou embora desse lugar.

A Garça lançou um olhar desdenhoso para a Coruja, fez um instante de silêncio e com um ar de reprovação respondeu:

– Companheira, vá para aonde quer que seja, se não mudar o seu canto, ninguém vai gostar de você.

Depois de ouvir essas palavras, voltei para a estrada e retomei a minha caminhada, agora com o coração mais tranquilo. A Garça tinha razão. Eu precisava ver em mim o que aquela garota queria encontrar. Se eu não mudasse os meus padrões de pensamento e de comportamento jamais conseguiria fazer sorrir aquela a qual eu, um dia, havia feito chorar.

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